O atacante Ronaldo, do Corinthians, esteve nesta sexta-feira na redação do
Grupo Estado e falou à TV Estadão sobre o passado, o presente e o futuro.
Espera por uma grande temporada para 2010, quando disputará a Copa
Libertadores, sobre sua vida na capital paulista, que ainda pensa em como e
quando vai encerrar a carreira e temas como forma física, cultura e o
retorno à seleção brasileira, para, quem sabe, disputar a Copa do Mundo.
Leia a íntegra da entrevista, por temas:
TEMPORADA 2009
"Está sendo um ano maravilhoso. Estão acontecendo coisas tão boas que não dá
tempo nem de sentir saudade da Europa (risos). Só sinto falta de ficar perto
do meu filho, que está em Madri [Ronald, de nove anos]".
30 GOLS NO ANO
"A gente faz um amistoso contra o Íbis e supera essa meta (risos). A
temporada estava perfeita, mas só não consegui alcançar porque parei dois
meses por causa da lesão na minha mão. Foi na época onde eu estava jogando
muito. Acho que daria sim para chegar nos 30. Nesse período o Chicão e o
Dentinho fizeram gols de pênalti que eu poderia ter feito. Acho que o 30 é
um bom número e sempre possível de alcançar".
ENTRAR EM CAMPO
"Minha meta sempre é jogar, seja no interior ou em São Paulo, onde for. Até
porque quando não joga, tem de treinar muito, e eu prefiro jogar".
FORMA FÍSICA
"Voltei a treinar e comecei a sentir dores no joelho. Não é a mesma lesão.
Ideal é fazer uma pré-temporada maravilhosa, treinar, emagrecer, ficar bem.
O importante é me sentir bem fisicamente. Para mim o que vale é repetição.
De 20 piques, tenho de ter 40, isso eu acho que é a dinâmica do futebol".
"Essa tendinite [na mão direita] está me incomodando um pouco, não consigo
fazer uma semana inteira de treinos, mas a gente vai tentar conseguir essa
boa forma nas férias, treinando um pouquinho, e na pré-temporada, onde a
gente vai ficar trancado mais uma vez. O ideal é fazer uma pré-temporada
forte, sentir o esforço mesmo, para começar o ano muito bem".
MOTIVAÇÃO
"Independente da torcida, meu amor pelo futebol é grande. Só fiz o
sacrifício que fiz porque amo o futebol, e deu tudo certo. Contei muito com
o apoio da torcida corintiana, que desconfiou um pouco, é lógico, mas quando
as jogadas e os gols saíram, tudo foi sendo colocado em ordem. A torcida do
Corinthians, do Flamengo, pô, são duas que dão espetáculo à parte, e se
estão sintonizadas com o time faz a diferença".
TORCIDA PELO FLAMENGO
"Tenho de fazer meu trabalho pelo meu clube, vencer jogos. Como minha
preferência, é muito melhor que o Flamengo ganhe o campeonato, mas dentro de
campo tenho de honrar minha camisa e ganhar as partidas. Minha torcida é
pelo Flamengo".
NÍVEL TÉCNICO
"Futebol é igual no mundo todo. O nível dentro de campo tem muito pouca
diferença, acho que é só estrutura - campo, tipo de gramado, estádio...
Jogar no Brasil é tão difícil quanto a Inglaterra, Espanha, tanto que quem
sai daqui se torna importante por lá. Gramado alto, tipo de grama que prende
a bola, sem contar com estrutura - os vestiários são mais bonitos, o
atendimento à imprensa é mais organizado. Aqui acontece de você ter de dar
entrevista no campo, o jogo para começar. Tem estádio que não tem controle
nenhum, como o Serra Dourada. Você não quer atender porque você está
preocupado com jogo".
"O brasileiro explora toda sua técnica, por isso tem vários se destacando,
porque com isso tira proveito, o que o europeu não faz. A técnica sempre vai
fazer diferença".
FIM DE TEMPORADA
"A transição que tivemos com a venda do André Santos e do Cristian foram
perdas importantes, estávamos muito sincronizados, nas jogadas ensaiadas,
movimentação em campo. A lateral-esquerda não conseguiu encaixar ninguém
ainda. O Douglas ajudava muito na marcação, prendia a bola... A gente sofreu
muito com a perda deles, muita dificuldade de jogo mesmo, sem referências".
"Por estar com o objetivo já conquistado neste ano, dá uma liberdade melhor
de se preparar visando o ano que vem, ver as peças que quer contar ou não,
esse fim de ano serve como experiência para o próximo. A diretoria tem de
reforçar o Corinthians, vai ser um ano muito importante, todo e qualquer
sacrifício vai ser ótimo. Jogadores consagrados são importantes para isso".
ROBERTO CARLOS
"[Se vier] O Roberto Carlos bate melhor que eu. Eu nunca fui de bater falta,
fiz alguns gols de falta na Internazionale, mas sempre bati pouca. E se ele
escolher o Corinthians será ótimo. Será um grande desafio para ele
reconquistar o povo brasileiro, a imagem que o povo tem é a da Copa de 2006.
Não o culpo pelo que aconteceu, mas será um grande desafio".
ADRIANO
"Faço minha história, meu caminho. Eu estou muito feliz, eles estão fazendo
um ótimo campeonato, ele se reencontrou após vários problemas, tanto para
mim quanto para ele foi um ano ótimo. Se puder escolher, que o Flamengo
ganhe e o Adriano seja artilheiro. Acho que ele foi o mais decisivo, pela
minha visão do futebol gosto deste tipo. Aquele que pega a bola no momento
decisivo, chama a responsabilidade".
SELEÇÃO
"Eu vivo minha vida trabalhando no Corinthians e pensando no clube. A
seleção eu penso como um militar, um reservista, esperando ser chamado.
Estou aí. Até porque a seleção nunca teve o costume de homenagear jogadores
importantes, como Cafu, Roberto Carlos. Seleção é nosso país, nossa pátria,
não tenho de fechar as portas. Se precisarem de mim, é só chamar. Eu tenho
certeza que se fizer um grande primeiro semestre tenho possibilidade de ser
chamado. Vou me esforçar, trabalhar, primeiro pelo Corinthians, e se tiver
chance, ótimo".
CAMISA 10
"Quando eu vejo a camisa 10 eu não penso no Pelé, penso no Zico. Eu não vi o
Pelé jogar, mas vi o Zico. Eu gostaria de bater falta como ele batia, ele
tinha uma visão de jogo, colocava a bola onde queria e era um meia-atacante
que fazia muitos gols".
MELHOR DA HISTÓRIA
"É uma honra estar entre esses jogadores, mas eu não tenho pretensão nenhuma
de ser melhor do que eles. Eu faço minha história e estar entre eles já é
uma honra".
FIM DA CARREIRA
"Seria maravilhoso ganhar tudo no ano que vem, mas tem acontecido tantas
coisas incríveis, vamos ver... Tenho essa ideia de jogar mais um ano,
encerrar minha carreira bem. Mas não quero perder esse carinho do povo
brasileiro, estou muito confuso a quando terminar minha carreira, é algo que
tenho de tomar, vai ser duro... O corpo pede um descanso, foram muitos anos
de pancadas, treinos, fisioterapia, contusões, uma história incrível".
LIBERTADORES
"Acho que para o sul-americano é mais importante a Libertadores do que a
Liga dos Campeões. Aqui se vive o futebol mais intensamente. Pode ser um
consolo imenso por não ter ganho uma Liga dos Campeões. Esse confronto
contra brasileiros que pode acontecer vai ser uma decisão antecipada, acho
que serão os principais rivais. E seremos os favoritos [times brasileiros]."
RIQUELME
"Ele é um jogador consagrado, que tem muita qualidade, mas vamos ver. É
muito difícil falar de grandes contratações, temos de pensar na montagem do
time para a Libertadores".
DEFEDERICO
"Ele tem técnica, é bom, mas é jovem. Está se adaptando e tem um talento
promissor. Toca muito bem, pensa rápido, está começando a entender que um
meia tem de entrar no lugar de um atacante, está aprendendo rápido".
REVELAÇÕES
"Acho que é inevitável treinar tática, todas as categorias de base tem
treinar. A técnica é o principal, faz com que o brasileiro tenha vantagem
sobre os outros. Nossas categorias de base são muito boas. Acho que tem de
trabalhar muito na cabeça dos jogadores que o futebol é objetivo, e o
simples é o mais bonito, se você facilitar para o seu companheiro no passe
de chapa... Se você quer usar um três dedos, complica para dominar, tem de
saber usar, não fazer só para ficar bonito. Quando falo de objetividade,
lembro do Kaká. É o estilo de jogo moderno, com força e técnica, a
habilidade que ele tem".
GOLS MAIS BONITOS NO CORINTHIANS
"Primeiro, o gol de cobertura contra o Santos, no primeiro jogo da final do
Campeonato Paulista, o segundo o da matada de bola [na mesma decisão do
Estadual], e o terceiro, pela importância, o primeiro gol que fiz contra o
Internacional pela final da Copa do Brasil".
VIDA EM SÃO PAULO
"São Paulo é super agitada, o problema é o trânsito, muito ruim. Fora isso
minha vida é tranquila. As pessoas imaginavam outra coisa porque sempre me
viam só de férias no Brasil, lógico que saio algumas vezes, restaurante,
cinema, festa, mas minha vida é muito tranquila. A pé não saio, nem fiz o
teste. O máximo foi a um restaurante em frente à minha casa. Acho que ainda
está muito recente, esse sucesso todo, é melhor evitar confusão. A gente tem
uma mesa, faz pôquer toda semana, cacife bem baixo, para não viciar. Eu
adoro golfe, mas não tive tempo. Escuto música em casa e tem minha filhinha
em casa, que a cada dia é uma novidade. Parece uma vida chata (risos)".
CULTURA
"Eu ouço hip-hop, pagode, rock, bastante coisa. A gente tem o costume de
ouvir música no aquecimento, começou este ano no Corinthians, varia a cada
jogo. A gente põe no ônibus. Meu pai lê muitos livros, ele me dá livros de
filosofia, eu leio duas, três vezes para entender. Meu pai é super culto, eu
gosto disso. Às vezes ele me dá livro de 600 páginas, e aí eu desanimo (risos)". |