Dar-lhe um emprego foi a maneira encontrada pelo Cruzeiro para que
Ronaldo, com apenas 16 anos, pudesse disputar torneios oficiais. Pela
legislação, um atleta das categorias de base só pode atuar caso estude
ou trabalhe. Como a transferência para algum colégio de Belo Horizonte
ainda não havia sido feita, o presidente da Raposa na ocasião, César
Masci, conseguiu que ele fosse registrado na empresa São José
Ferramentas e Peças Ltda., de propriedade de um conselheiro do clube.
Ronaldo, dono da carteira de trabalho 61.505, assinou contrato com o
Cruzeiro em 4 de janeiro, mas a inscrição na Federação Mineira de
Futebol, de número 16.098, só foi feita em 10 de fevereiro, mesma data
da admissão na fábrica. O salário não chegava ao mínimo exigido por lei.
- Era um tempo difícil. A gente não tinha dinheiro para comprar nada. O
Ronaldo sempre foi muito responsável. Todo dinheiro que ganhava sempre
pensava em ajudar a família dele no Rio – contou Anderson Nunes, com
quem o atacante dividia o quarto na Toca da Raposa.
Ronaldo dispara nos gols, mas salário só melhora após apelo público
A história, porém, começaria a mudar no dia 21 de março de 93. O
Fenômeno, ainda franzino, estreou pelos juniores com dois gols na
vitória por 4 a 1 sobre o Botafogo, de Matosinhos-MG. Pouco mais de dois
meses depois, em 25 de maio, fez o primeiro jogo como titular dos
profissionais, no triunfo por 1 a 0 sobre o Caldense, em Poços de Caldas,
pelo Campeonato Mineiro, gol do meia Ramón, atualmente no Vitória-BA.
Em agosto, Ronaldo seria incorporado ao elenco profissional
definitivamente. A Raposa faria uma série de jogos em Portugal, mas o
técnico Carlos Alberto Silva tinha apenas Tôto como opção para o ataque,
já que Cleison havia sido vendido para o Belenenses-POR.
- O Carlos Alberto me perguntou qual jogador dos juniores eu achava que
merecia uma chance na viagem. Indiquei o Ronaldo. Ele já era uma
esperança. Essa viagem apenas antecipou tudo aquilo que a gente já
esperava dele – contou o supervisor de futebol Benecy Queiroz.
Em Portugal, Ronaldo entrou no segundo tempo do empate por 1 a 1 em
amistoso contra o Benfica. No jogo seguinte, valendo pelo Torneio do
Porto, foi titular e marcou seu primeiro gol, aos 38 minutos da etapa
inicial. A Raposa bateu o Belenenses por 2 a 0. Na decisão, passou em
branco e viu seu time perder por 3 a 1 para o Porto.
Na volta ao Brasil, Ronaldo já era visto de forma diferente no clube,
mas continuava ganhando pouco, o que atualmente corresponderia a R$ 380.
No entanto, o Fenômeno já mostrava que levava jeito para o marketing. Em
uma entrevista a uma emissora de rádio, contou que ainda morava na Toca
da Raposa e não tinha recebido um aumento salarial. A informação chegou
aos ouvidos dos dirigentes que, para evitarem críticas, resolveram o
problema.
- Dois dias depois, ele já estava morando em um apart-hotel, com salário
maior e tudo mais (risos) – recordou Anderson.
Ronaldo fechou a temporada com 29 jogos e 28 gols. O ótimo desempenho
obrigou o Cruzeiro a correr para não perdê-lo. O clube, que havia
comprado 45% do passe dele do ex-atacante Jairzinho por US$ 50 mil,
adquiriu em abril de 2004 o restante por US$ 1 milhão, das mãos dos
empresários Alexandre Martins, Reinaldo Pitta e Leo Rabello. Na volta da
Copa do Mundo, o craque acabou negociado com o PSV-HOL por US$ 6 milhões,
um recorde na época.
- O investimento nele valeu cada centavo - completou Queiroz. |