inacreditável, mas a contratação de Ronaldo pelo Corinthians teve o grande
mérito de deixar todo mundo feliz. Os sorrisos se estendem desde aquele
corintiano doidão que venderia a família inteira só para conseguir ver o
Coringão jogar contra o 4 de julho de Piri-Piri na casa do adversário, e que
agora volta a ter um Ídolo com I maiúsculo, até o palmeirense, o sãopaulino e o
santista que hoje dizem que o maior dos muitos desafios do atacante vai ser
conseguir um uniforme GGG para entrar em campo.
Quando o Palmeiras subiu da Série B, demorou cinco anos para conquistar um
mísero estadual. O grande problema do alviverde neste período, em que chegou a
montar times ruins, razoáveis, e apenas um considerado bom - o deste ano -, era
e ainda é acima de tudo psicológico. Na hora do “vamos ver”, a equipe afina. A
torcida lota o Palestra Itália para ver o clube precisando de uma vitória
simples sobre uma equipe bem mais ou menos para ir à Libertadores, ou subir de
posição e se qualificar para a disputa do título, e o Palmeiras perde. Fazendo
um paralelo com a famosa frase do rapper Mano Brown, é como se o Verdão tivesse
saído da Série B, mas a Série B não tivesse saído do Verdão. O trauma fica
entalado em algum canto do Palestra Itália. O Atlético-MG e o Botafogo também
conhecem bem esta história.
O Corinthians tinha grandes chances de entrar nesse espiral de insegurança. A
direção do clube captou isso e entendeu que precisava de um grande evento que
tirasse o foco da insegurança do time, bem como do recente título do rival São
Paulo. O grande achado: um flerte com Ronaldo, que nem precisou de muito charme
para se seduzir pela proposta do Parque São Jorge.
Para o Corinthians, ter Ronaldo é sensacional. O clube passa a ser manchete no
mundo inteiro, o que é quase inédito. A Nike, fornecedora do uniforme corintiano,
vai vender camisa do clube do Japão ao Oriente Médio, da Inglaterra aos Estados
Unidos. O Pacaembu estará lotado em todos os jogos enquanto Ronaldo tiver
contrato com o clube. E, de quebra, se o Fenômeno perder um pouco dos muitos
quilos que hoje tem, vai ser melhor que quase todos os atacantes do futebol
nacional no momento. Com o perdão da piada indireta, a vinda de Ronaldo fará o
Corinthians acumular gordura financeira em plena crise mundial, o que
dificilmente ocorrerá com os rivais.
Por outro lado, os torcedores (e alguns dirigentes) dos clubes adversários
desdenham com ímpeto. Apostam que o marketing vai ser grande, mas dentro de
campo a vinda de Ronaldo não vai significar muita coisa, não só pelo excesso de
peso – durante a apresentação no Parque São Jorge desta sexta, Ronaldo lembrava
o Sargento Pincel, dos Trapalhões – mas também por conta do histórico de seus
joelhos. Junte isso com o oba-oba característico sobre o Corinthians. Bastam
alguns poucos resultados negativos para a crise chegar – e quando ela chega no
Tatuapé, sempre ganha ares de tragédia.
Os dirigentes da Federação Paulista e da CBF também estão eufóricos. O São Paulo
pretende colocar jogadores do time reserva para disputar o Paulistão, o que
tornaria o campeonato um pouco mais monótono do que já é. A vinda de Ronaldo ao
arqui-rival ofusca completamente isso. O Paulista ganha uma valorização que não
tinha há vários anos, sobretudo porque as primeiras partidas do atacante
corintiano provavelmente serão pelo campeonato. Ganhar do Corinthians vai ter um
gosto especial, e as partidas com Ronaldo em campo serão mais intensas.
O mesmo vale para a CBF: o interesse internacional pelo Brasileirão crescerá
horrores. Vender o campeonato para a TV italiana e/ou espanhola ficou um pouco
menos difícil.
E, é claro, a imprensa abre um sorriso enorme, pois não foi fácil tentar
transformar um apenas esforçado Herrera em ídolo e, conseqüentemente, vender
jornal, revista ou aumentar os cliques dos sites esportivos. Com Ronaldo sendo
notícia todo dia (o que, diga-se, ele adora), a travessia sobre a crise que vai
marcar o ano de 2009 será menos árdua para a mídia.
Agora, neste final de ano esportivo que já mira 2009, a grande pergunta é: e o
Mano Menezes nesta? O foco neste momento não é no técnico do Corinthians, mas a
partir de janeiro será. Vai Mano conseguir conciliar os privilégios do craque
com o elenco pé-de-boi que tem em mãos? Ganhará, com o perdão de mais este
trocadilho, outros reforços de peso para os setores carentes do time? Nem só de
marketing vive um clube, e, no Corinthians, tudo é hipérbole. Se as alegrias
vierem, estarão entre as maiores da história do clube, por tudo que tem ocorrido
por lá nos últimos tempos. Em compensação, se der xabu, o peso da contratação de
Ronaldo será o equivalente a uma bomba atômica. |